segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Caso das Calcinhas


Aqui na Índia além de ser tudo difícil, é tudo muito bizarro.
No meu primeiro fim de semana na Índia, fui para a Universidade de Karunya. Passei o fim de semana lá para conhecer os outros intercambistas e voltei no domingo a tarde. Aqui no Instituto, divido quarto com mais duas indianas e, até então, elas deixavam a porta da frente sem o cadeado mesmo nosso hostel sendo aberto para o mundo sem nenhum tipo de grade. Confiando na segurança do local deixei meu mochilão em cima da cama, com alguns dólares dentro, meu notebook embaixo (tá, eu fui bem novata quanto a isso) e em cima de tudo uma bolsa menor onde eu guardava minhas roupas intimas. No domingo, entrei no quarto e fui pegar minhas coisas para tomar banho. A bolsa onde estavam minhas roupas intimas estava vazia, só com as minhas meias. Saí revirando minha mochila procurando em todos os cantos do quarto, de resto tudo estava lá, os dólares, os cartões e meu notebook. Tudo intacto. Exceto pelas minhas calcinhas e meus sutiãs que haviam desaparecido.
Fui do lado de fora procurar lá, e no varal, estendidos junto com outras roupas que não eram minhas, estavam meus sutiãs e uma regatinha de gatinho que uso para dormir. Nada das 12 calcinhas que eu tinha trazido.

Saí com sangue nos olhos e muito que brava atrás das meninas que dividem quarto comigo. Encontrei só uma delas (os indianos são esquisitos e ela não é nenhum pouco exceção). Contei pra ela num inglês meio enrolado devido ao estado de nervos em que eu me encontrava o que tinha acontecido. Ela, com um tom me deixou bem mais nervosa, disse que as roupas eram dela. Eu retruquei falando que eram minhas e que eu tinha trazido do Brasil. Levei-a até o quarto e mostrei. Ai ela, com o mesmo tom, falou que não sabia como minhas roupas foram parar lá e não sabia onde estavam minhas calcinhas, disse até que eu devia ter deixado no Brasil, por que não fazia sentido alguém ter roubado-as de mim. Isso me deixou ainda mais irritada. Fui falar com o responsável pelo hostel (os indianos são workaholics demais, era domingo a noite e o cara tava trabalhando)
Por fim, ele disse que não podia tomar nenhuma atitude imediata, mas disse que ia tomar providencia porque isso já aconteceu com outra menina há menos de uma semana, roubaram um par de calcinha e sutiã dela de dentro do armário.
Mas no meu caso foram TODAS. A explicação que eu encontro é: aqui a calcinha que elas usam não é igual as nossas aí no Brasil, é tipo aquelas de vó, de algodão e gigante. E a qualidade não é boa também. Mas a explicação para o fato dos meus sutiãs estarem pendurados no varal, não tenho ideia e infelizmente não tenho provas para tomar a atitude que eu gostaria.


Bom, mas ainda vou rir muito dessa historia. E uma lição nessa viagem pelo menos eu aprendi:
‘Em terra de calcinha de vó, quem tem tanga é Rei.’

SACON e meu dia-a-dia

Main Office SACON

Falar do meu dia-a-dia aqui no Instituto é meio chato e sem grandes emoções, vou fazer isso só pra conseguir dar uma ideia geral de como funcionam as coisas aqui.
A SACON, Salim Ali Centre for Ornithology and Natural History (http://sacon.in/), é um instituto de pesquisa vinculado a Karunya University. Aqui trabalham cerca de 15 pesquisadores, das áreas de Ecologia da Paisagem (meu departamento), Avaliação de Impacto Ambiental, Conservação Biologica, Ecotoxicologia e por ai vai. E existem por volta de uns 20 e poucos alunos a maioria no doutorado. Tem também o pessoal que trabalha na administração, biblioteca e limpeza. O instituto é razoavelmente pequeno e distante de tudo. Estamos no alto da montanha há 25km da cidade de Coimbatore (isso significa quase duas horas de ônibus). Para mim isso é muito bom, estou de cara com a magnifica parte Sul dos Western Ghats, um dos hotspots de diversidade biológica do mundo. Para os não biólogos, Os Western Ghats têm a mesma importância que a nossa Mata Atlântica e o Cerrado que também estão nessa lista.
Hostel
Além de toda a natureza selvagem que me cerca, aqui na SACON me refugio da bagunça, poluição e barulho que existem na Cidade de Coimbatore. A cidade é bem grande, a terceira maior do Estado de Tamil Nadul. Para dar uma idéia, Coimbatore é uma 25 de março. Lá é a típica cidade indiana. Tudo muito colorido, muito sujo, muito cheio, muito indiano. Um dia falo mais sobre ela.
Aqui na SACON existem 5 prédios principais, o ‘Main Office’ e a biblioteca logo em frente, um pouco mais a diante seguindo um caminho asfaltado tem o Laboratório, e mais adiante seguindo agora um caminho de terra tem a Cantina e, em frente, o Hostel com quatro minúsculos quartinhos.
Internet não pega no Hostel. A luz acaba sempre todo dia em alguns horários específicos, ultimamente tem acabado de hora em hora. Isso acontece em toda cidade para economia de energia. E como ultimamente não tem chovido como deveria, fica acabando de hora em hora.
Isso é um assunto interessante porque, para quem não sabe, estamos exatamente na época das monções aqui na Ásia, essa época é caracterizada por chuvas intensas, é responsável pelo abastecimento dos Rios, canais e pela imensa quantidade de tanques que existem na Índia. Pois é, só que esse ano não choveu. Nada. Os riachos estão secos e os tanques estão com menos da metade do volume. Perguntei para alguns pesquisadores daqui o que havia acontecido, pois eu vim preparada para chuvas torrenciais o dia todo, todo dia, mas eles disseram que as monções vêm diminuindo ano após ano e que esse ano não choveu nada.
Como esse é um tema meio polêmico e esse não é um blog cientifico, vou só deixar a minha singela opinião de que, sim, mudanças climáticas estão acontecendo e sim, grande parte da culpa é do ser humano.
Bom, desabafos a parte e voltando a assuntos mais amenos, a galera aqui é workaholic demais. As meninas que dividem quarto comigo, por exemplo, saem às 9 da manhã do quarto, voltam a tarde depois do expediente para trocar de roupa e depois saem novamente pra ir pro Laboratório e voltam lá pela meia noite. Eles trabalham incessantemente. E dentro do laboratório tem uma sala só com camas e tem uns estudantes que moram lá também. Não sei como eles conseguem, é o tipo de coisa que só faz sentido dentro de uma mente Índiana.
Meu projeto é relacionado à priorização dos lagos e tanques naturais para conservação e manejo na parte que eles chamam de ‘corporation’ aqui em Coimbatore, seria o correspondente à Grande São Paulo.
Esses tanques naturais são fonte de muitos recursos para a população além de abrigar uma grande diversidade fauna e flora. Muitas aves passam por aqui durante a migração e existem outras endêmicas. O problema é que os tanques estão sendo sufocados pela ocupação urbana e os localizados na ‘corporation’ estão todos contaminados pelo lixo, esgoto e por pesticidas, agrotóxicos que os agricultores ao redor usam em suas plantações. Vai ser um projeto bem trabalhoso, mas vai ser bem interessante. Quando ele estiver melhor estruturado e quando eu for fazer trabalho de campo explico melhor sobre ele.
Os dias aqui passam mansinho. Tenho muita coisa pra fazer do meu projeto, mas arranjo tempo para fazer outras coisas. Eu finalmente estou conseguindo praticar yoga todos os dias, algo que sempre quis. Com o pôr do sol e uma paisagem magnífica que me fazem querer ficar presa naquele momento.
A noite venta demais e para completar existem muitos corvos por aqui (os corvos são os pombos da Índia, tem um em cada canto) isso me fazia sentir constantemente em um filme de terro. Os animais estão por toda parte, e já me renderam muitas boas histórias que outro dia eu conto.

Aqui na Índia muita coisa diferente acontece e a cada dia eu aprendo tanta coisa nova que acho que não vai caber tudo na minha cabeça. Tenho muita história para contar e vários textos semi-prontos, mas cada vez que penso em publicar, surge algo novo para completar, em breve eu coloco mais coisa.



Namastê