Main Office SACON |
Falar do meu dia-a-dia aqui no Instituto é meio chato e sem
grandes emoções, vou fazer isso só pra conseguir dar uma ideia geral de
como funcionam as coisas aqui.
A SACON, Salim Ali Centre for Ornithology and Natural
History (http://sacon.in/), é um instituto de pesquisa vinculado a Karunya University. Aqui
trabalham cerca de 15 pesquisadores, das áreas de Ecologia da Paisagem (meu
departamento), Avaliação de Impacto Ambiental, Conservação Biologica,
Ecotoxicologia e por ai vai. E existem por volta de uns 20 e poucos alunos a
maioria no doutorado. Tem também o pessoal que trabalha na administração,
biblioteca e limpeza. O instituto é razoavelmente pequeno e distante de tudo.
Estamos no alto da montanha há 25km da cidade de Coimbatore (isso significa
quase duas horas de ônibus). Para mim isso é muito bom, estou de cara com a
magnifica parte Sul dos Western Ghats, um dos hotspots de diversidade biológica
do mundo. Para os não biólogos, Os Western Ghats têm a mesma importância que a
nossa Mata Atlântica e o Cerrado que também estão nessa lista.
Hostel |
Além de toda a natureza selvagem que me cerca, aqui na SACON
me refugio da bagunça, poluição e barulho que existem na Cidade de Coimbatore.
A cidade é bem grande, a terceira maior do Estado de Tamil Nadul. Para dar uma
idéia, Coimbatore é uma 25 de março. Lá é a típica cidade indiana. Tudo muito
colorido, muito sujo, muito cheio, muito indiano. Um dia falo mais sobre ela.
Aqui na SACON existem 5 prédios principais, o ‘Main Office’
e a biblioteca logo em frente, um pouco mais a diante seguindo um caminho
asfaltado tem o Laboratório, e mais adiante seguindo agora um caminho de terra
tem a Cantina e, em frente, o Hostel com quatro minúsculos quartinhos.
Internet não pega no Hostel. A luz acaba sempre todo dia em
alguns horários específicos, ultimamente tem acabado de hora em hora. Isso
acontece em toda cidade para economia de energia. E como ultimamente não tem
chovido como deveria, fica acabando de hora em hora.
Isso é um assunto interessante porque, para quem não sabe,
estamos exatamente na época das monções aqui na Ásia, essa época é caracterizada
por chuvas intensas, é responsável pelo abastecimento dos Rios, canais e pela
imensa quantidade de tanques que existem na Índia. Pois é, só que esse ano não
choveu. Nada. Os riachos estão secos e os tanques estão com menos da metade do
volume. Perguntei para alguns pesquisadores daqui o que havia acontecido, pois
eu vim preparada para chuvas torrenciais o dia todo, todo dia, mas eles
disseram que as monções vêm diminuindo ano após ano e que esse ano não choveu
nada.
Como esse é um tema meio polêmico e esse não é um blog
cientifico, vou só deixar a minha singela opinião de que, sim, mudanças climáticas
estão acontecendo e sim, grande parte da culpa é do ser humano.
Bom, desabafos a parte e voltando a assuntos mais amenos, a
galera aqui é workaholic demais. As meninas que dividem quarto comigo, por
exemplo, saem às 9 da manhã do quarto, voltam a tarde depois do expediente para
trocar de roupa e depois saem novamente pra ir pro Laboratório e voltam lá pela
meia noite. Eles trabalham incessantemente. E dentro do laboratório tem uma
sala só com camas e tem uns estudantes que moram lá também. Não sei como eles
conseguem, é o tipo de coisa que só faz sentido dentro de uma mente Índiana.
Meu projeto é relacionado à priorização dos lagos e tanques
naturais para conservação e manejo na parte que eles chamam de ‘corporation’ aqui em Coimbatore, seria
o correspondente à Grande São Paulo.
Esses tanques naturais são fonte de muitos recursos para a
população além de abrigar uma grande diversidade fauna e flora. Muitas aves
passam por aqui durante a migração e existem outras endêmicas. O problema é que
os tanques estão sendo sufocados pela ocupação urbana e os localizados na ‘corporation’ estão todos contaminados
pelo lixo, esgoto e por pesticidas, agrotóxicos que os agricultores ao redor
usam em suas plantações. Vai ser um projeto bem trabalhoso, mas vai ser bem
interessante. Quando ele estiver melhor estruturado e quando eu for fazer trabalho de campo explico melhor sobre ele.
Os dias aqui passam mansinho. Tenho muita coisa pra fazer do
meu projeto, mas arranjo tempo para fazer outras coisas. Eu finalmente estou
conseguindo praticar yoga todos os dias, algo que sempre quis. Com o pôr do sol
e uma paisagem magnífica que me fazem querer ficar presa naquele momento.
A noite venta demais e para completar existem muitos corvos
por aqui (os corvos são os pombos da Índia, tem um em cada canto) isso me fazia
sentir constantemente em um filme de terro. Os animais estão por toda parte, e
já me renderam muitas boas histórias que outro dia eu conto.
Aqui na Índia muita coisa diferente acontece e a cada dia eu
aprendo tanta coisa nova que acho que não vai caber tudo na minha cabeça. Tenho
muita história para contar e vários textos semi-prontos, mas cada vez que penso
em publicar, surge algo novo para completar, em breve eu coloco mais coisa.
Namastê
Mi fico muito "mais" orgulhoso , sabendo que todo esse sofrimento de estar longe das pessoas que você ama , vem um dia a ser passado para tantas outras pessoas o conhecimento do que esta acontecendo no nosso planeta e a importância da responsabilidade que cabe a todos nós da preservação .
ResponderExcluirE sei que você fara parte da luta por dias melhores para todos .
Mi, procurando palavras para descrever meus sentimentos após ler os seus textos, muitas me vem a cabeça, então deixo apenas uma frase usando três delas: eu me orgulho demais de você, te amo muito e estou com uma imensa saudade.
ResponderExcluirMicca, Que lugar maravilhoso!
ResponderExcluirsua cara!!
Deve ser a melhor sensação do mundo fazer Yoga num lugar desse e no pôr do sol!!
Tento imaginar a sensação, mas não consigo!